Descubra quais métodos o Projeto Arrastão adota no ensino de crianças e adolescentes
A questão que dá nome a esse texto tem milhares de respostas. Pedagogos e linguistas de todo o mundo traçam o mesmo desafio a fim de construir novas formas de aprendizado, que possam desenvolver melhor a capacidade de crianças e adolescentes de reconhecer e trabalhar com palavras, e consequentemente textos.
O Projeto Arrastão também faz parte disso e junto ao linguista Élie Bajard criamos a metodologia chamada A Descoberta da Língua Escrita, publicada pela editora Cortez. A obra descreve a estrutura do método de ensino, desde a educação infantil até a para adolescentes.
A descoberta do texto
As crianças e adolescentes do Projeto Arrastão aprendem as palavras por meio da Descoberta do Texto, que compõe a série de estratégias da pedagogia de Élie. Através delas, os educandos têm uma exposição do texto em que, de forma fragmentada, vão construindo o seu entendimento.
A “fragmentação” acontece porque o processo é invertido: ao invés do modelo tradicional, em que os jovens leem o texto todo e depois o educador faz sua exposição, são os jovens quem primeiro dão suas impressões. Ao fazerem isso, eles marcam as palavras que justificam esse entendimento.
Um a um, eles explicam fazendo marcações em diferentes pontos, e o professor faz questionamentos sobre as palavras sublinhadas. Após isso, o professor marca pistas sobre todas as marcações, a fim de alinhar as diversas compreensões que o texto sugeriu para as crianças.
Por fim, com todas as análises reunidas, a visão se amplia, e novamente os educandos expressam o que entenderam do texto. Essa compreensão torna-se maior e concisa. Mais do que isso, eles conhecem novas palavras, novas construções sintáticas e, principalmente, novos conteúdos.
Na prática!
A educadora Juliana, do CCA, fez uma exposição da Descoberta do Texto em sua sala. A turma tem crianças de 11 e 12 anos. Nesta ocasião, outros professores também acompanharam a aula, para desenvolverem a atividade para seus educandos.
O texto escolhido foi o mito nórdico A Árvore da Vida.
Você conhece?
O mito nórdico, A Árvore da Vida, fala sobre a importância delas para a vida do homem, e essencialmente da terra. Confira o texto abaixo:
“Árvores sempre foram reconhecidas como a melhor dádiva da natureza à raça humana. Elas fornecem alimento, abrigo, ferramentas, remédios, barcos, fogo, armas, vestimenta, sombra no verão, calor no inverno e beleza o ano todo. Elas eram abordadas com reverência pelos povos antigos, pois eram obviamente entidades vivas gigantescas, imbuídas de espírito.
A árvore da vida dos mitos nórdicos era um freixo chamado Yggdrasil que significa Cavalo Terrível ou o Cavalo de Ygg (o Ogre), porque Odin cavalgou nele para a morte. Como eixo do mundo, suas raízes sustentavam a terra, seu tronco passava pelo centro do mundo, seus galhos se estendiam sobre o céu, enfeitados com estrelas.
Uma poderosa serpente rói continuamente na árvore. Quando ela tiver sucesso, será o fim dos tempos, pois toda a estrutura e todos os mundos que ela sustenta caíram.
Após expor o texto na lousa, as crianças realizaram as marcações nas palavras e explicaram o porquê. Uma após outra, a educadora fez questionamentos de forma a estimular que novas visões do significado fossem assimiladas, e assim novas palavras marcadas. Ela também exibiu uma imagem que compõe o mito, e pediu para que, baseado no texto, eles explicassem o que significa. Além disso, cada um recebeu o texto impresso, em que também fizeram as suas marcações.
Por fim, a educadora fez uma explanação sobre o texto, discorrendo sobre a importância da árvore na cultura nórdica e na atualidade, o que é um mito e sua construção histórica, e para finalizar deixou que os alunos falassem sobre o tema.
Metodologia premiada
A Descoberta da Língua Escrita é uma pedagogia premiada em função tanto dos seus resultados, quanto da forma como foi desenvolvida. Tendo como reconhecimento mais recente o Prêmio Criança – Fundação Abrinq em 2016.
Quem é Élie
Élie Bajard é francês radicado no Brasil, tem experiência em lecionar na França, Argélia e Marrocos, e foi pioneiro no Brasil com a criação do Projeto Pró-Leitura, implantado em doze estados, em parceria com o Ministério da Educação. Além disso, foi professor da Universidade de São Paulo e escreveu cinco livros sobre o tema da leitura.